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coisas & loisas

coisas em que vou pensando e loisas de que gosto, ou não

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Portugal antes de Portugal

26.09.21 | Álvaro Aragão Athayde

 

No dia 31 de Dezembro de 406 um grupo misto bárbaros atravessou o Reno em Mogúncia (Mogontiacum em latim, Mainz em alemão, Mayence em francês) e começaram a destruir a Gália (Gallia em latim).

Esse grupo misto integrava Suevos (Marcomanos e Quados), Vândalos (Asdingos e Silingos) e Sármatas (Alanos), que passarama Espanha (Hispania em latim) onde foram assentes como Federados (Foederati em latim).

 

Península Ibérica em 411

Península Ibérica em 411

 

Posteriormente os Vândalos e os Alanos, após terem sido derrotados pelos Romanos, Godos e Suevos, passaram à África Proconsular (Africa Proconsularis em latim) e os Suevos fundaram um reino na Península Ibérica, o Reino da Galécia (em latim Gallaecia Regnum ou Galliciense Regnum), com capital em Braga (Bracara Augusta em latim), que atingiu a sua máxima expansão no reinado de Requiário I (448 – 456).

 

Extensão máxima do Reino Suevo (verde claro)

Extensão máxima do Reino Suevo (verde claro)

 

Após 456 o Reino Suevo da Galécia foi sendo reduzido por Romanos e Visigodos acabando, em 585, por ser incorporado no Reino Visigótico.

 

The Suebic kingdom of Gallaecia (green), c. 550

O Reino Suevo de Gallaecia (a verde), cerca de 550, (com os limites das antigas Províncias Romanas da Hispania)

 

 

 

 

 

 

 

FIM

 

Brutalismo

19.09.21 | Álvaro Aragão Athayde

Brutalismo, de Achille Mbembe

O brutalismo baseia‑se na profunda convicção de que o vivo e as máquinas deixaram de se distinguir.

A matéria é a máquina dos nossos dias, o computador no seu mais amplo sentido, bem como o nervo, o cérebro e toda a realidade numinosa. É nela que reside a centelha do vivo.

Doravante, os mundos da matéria, da máquina e da vida serão indestrinçáveis.

 

RECOMENDO VIVAMENTE A LEITURA DESTE ENSAIO

 

O autor analiza a tendência associada à Grande Reinicialização e ao Transumanismo, tendência essa que pode ser personificada em Klaus Schwab e Bill Gates.

 

 

 

 

 

 

FIM

 

Napoleão vem aí!

13.09.21 | Álvaro Aragão Athayde

Napoleão Vem Aí!, de Domingos Amaral

Napoleão Vem Aí!, do jornalista e escritor Domingos Amaral, com selo Casa das Letras|LeYa.

 

 

É violentamente anti-francês e anti-Junot.

Mas é ainda mais violentamente anti-Juliana de Almeida e Oyenhausen, Condessa de Ega, e anti-Carlota Joaquina de Bourbon, Infanta de Espanha, e Rainha Consorte do Reino de Portugal, depois do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves, ainda depois Reino de Portugal e Algarves e, finalmente, Imperatriz titular do Brasil.

Embora a intriga se centre em Lisboa e no curto e debochado reinado de El Rei Junot, descreve, embora com alguns erros, a Primeira Invasão Francesa de Portugal.

É interessante e agradável de ler.

 

Original aqui.

 

 

 

 

 

 

FIM

 

Guerra Junqueiro, 1896.

09.09.21 | Álvaro Aragão Athayde

Guerra Junqueiro, 1896.

Abílio Manuel Guerra Junqueiro
(Freixo de Espada à Cinta, Ligares, 15 de setembro de 1850 — Lisboa, 7 de julho de 1923)

 

Um povo imbecilizado e resignado, humilde e macambúzio, fatalista e sonâmbulo, burro de carga, besta de nora, aguentando pauladas, sacos de vergonhas, feixes de misérias, sem uma rebelião, um mostrar de dentes, a energia dum coice, pois que nem já com as orelhas é capaz de sacudir as moscas; um povo em catalepsia ambulante, não se lembrando nem donde vem, nem onde está, nem para onde vai; um povo, enfim, que eu adoro, porque sofre e é bom, e guarda ainda na noite da sua inconsciência como que um lampejo misterioso da alma nacional, reflexo de astro em silêncio escuro de lagoa morta.

Uma burguesia, cívica e politicamente corrupta até à medula,não descriminando já o bem do mal, sem palavras, sem vergonha, sem carácter, havendo homens que, honrados na vida íntima, descambam na vida pública em pantomineiros e sevandijas, capazes de toda a veniaga e toda a infâmia, da mentira à falsificação, da violência ao roubo, donde provém que na política portuguesa sucedam, entre a indiferença geral, escândalos monstruosos, absolutamente inverosímeis no Limoeiro.

Um poder legislativo, esfregão de cozinha do executivo; este criado de quarto do moderador; e este, finalmente, tornado absoluto pela abdicação unânime do País.

A justiça ao arbítrio da Política,torcendo-lhe a vara ao ponto de fazer dela saca-rolhas. Dois partidos sem ideias, sem planos, sem convicções, incapazes, vivendo ambos do mesmo utilitarismo céptico e pervertido, análogos nas palavras, idênticos nos actos, iguais um ao outro como duas metades do mesmo zero, e não se malgando e fundindo, apesar disso, pela razão que alguém deu no parlamento, de não caberem todos duma vez na mesma sala de jantar.

Guerra Junqueiro, 1896.

 

Impressionante como os males de 2014 são um decalque de 1896!

E nós sempre na mesma...

O último parágrafo podia ser a 1.ª página de um jornal de hoje!

UM RETRATO MAGISTRAL FEITO HÁ 118 ANOS. MAS COM ACTUALIDADE ATERRADORA.

 

 

 

Imagem e texto recebidos por correio electrónico às 16:18:54 WET de 13 de Novembro de 2014.
Recebido há quase sete anos ... o déjà vu é mais que evidente, ... resta saber como desta vez "isto" acabará.

 

 

 

 

 

 

FIM

 

Caraculo, a minha paixão | …

05.09.21 | Álvaro Aragão Athayde

 

Caraculo, a minha paixão | Deserto de Moçâmedes (Namibe) | Álbum fotográfico do século XIX e XX

CARACULO, A MINHA PAIXÃO | DESERTO DE MOÇÂMEDES (NAMIBE) | ÁLBUM FOTOGRÁFICO DO SÉCULO XIX E XX

 

Um documento histórico… e num lindo livro!

Vitor Torres é um Cabeça-de-Pungo com ascendência Pernambucana e Micaelense documentada, mais para trás fala o seu ADN, não a memória ou os documentos.


Ser angolano é meu fado, é meu castigo
Branco eu sou e pois já não consigo
mudar jamais de cor ou condição...
Mas, será que tem cor o coração?

Ser africano não é questão de cor
é sentimento, vocação, talvez amor.
Não é questão nem mesmo de bandeiras
de língua, de costumes ou maneiras...

A questão é de dentro, é sentimento
e nas parecenças de outras terras
longe das disputas e das guerras
encontro na distância esquecimento!

Angolano
Albano Neves e Sousa

 

 

 

 

 

 

FIM

 

Da queda do muro ao controlo do mar

01.09.21 | Álvaro Aragão Athayde

Portugal é o Mar

Estrutura de Missão para a Extensão da Plataforma Continental

 

 

Da queda do muro ao controlo do mar, da autoria de José Manuel Marques.

Um comentário, da minha autoria.

 

 

Da queda do muro ao controlo do mar


Se a Comissão Europeia conseguir transformar o mar de todos no Mar da União, uma de duas coisas deixará de ter sentido: não fará sentido Portugal permanecer na UE ou Portugal deixará de fazer sentido.

A conservadora Margaret Thatcher, nas vésperas da queda do muro de Berlim, foi a Moscovo tentar convencer Gorbatchov a impedir a derrocada de tão icónica construção. Em Paris, o socialista Mitterrand partilhava das mesmas preocupações e chegou a mesmo a comentar que gostava tanto da Alemanha que preferia ter duas. Reino Unido e França sentiam um óbvio desconforto pela reunificação da Alemanha. Mas um pouco por toda a Europa ocidental a apreensão era também grande. Thatcher terá dito a Gorbatchov que uma Alemanha unida levaria a uma mudança nas fronteiras do pós-guerra e isso prejudicaria a estabilidade de toda a situação internacional e colocaria em risco a segurança do próprio Reino Unido. Gorbichutou para canto. Helmut Kohl, chanceler alemão, já tinha negociado com ele, e à revelia de todos os aliados, a reunificação da Alemanha.

Assim, pela primeira vez na sua história, a Alemanha, agora reunida, consegue ter à sua disposição um quadro político que lhe permite cumprir a sua vocação imperial sem a necessidade de utilizar exércitos. As fronteiras da União Europeia, e o seu quadro legal, garantem um território estável e seguro. Território, outrora inacessível à Alemanha dividida, mas que hoje está disponível e à mercê de um IV Reich que se adivinha.

Trinta anos decorreram desde a conversa entre Margaret e Gorbi. Três décadas de praxis e pensamento germânico na UE, foram o suficiente para o Reino Unido carimbar Brexit no passaporte e deixar a UE sem um terço da sua capacidade militar. Não foi uma saída súbita e irresponsável, como em jeito de dogma de fé se proclamou. Nem tão pouco o resultado de habilidosos algoritmos que fintaram o eleitorado britânico, como em tempos o fez Maradona à selecção inglesa. Foi antes um processo longo que se iniciou logo após a queda do muro de Berlim, com avanços a diferentes velocidades. Um dia a história o demonstrará.

Em Paris, 30 anos após a queda do muro, a percepção é a de que a UE está ferida, talvez de morte. Mitterrand sabia que o projeto europeu era um projeto franco-alemão, mas franco-alemão dividido, não franco-alemão reunificado. E hoje está claro para França que o projeto franco-alemão é cada vez mais alemão e menos franco. Os recentes resultados do Eurobarómetro da Primavera do Parlamento Europeu são claros: os cidadãos franceses são os que menos se revêm na atual UE (apenas 15%), são os mais cépticos (35%) e são também os que mais querem estar fora da UE (9%). E a tendência é para estes números se agravarem. Um sentimento de inveja começa a ressurgir quando os Franceses olham para o lado de lá do Canal da Mancha.

Começa a ser visível e notório, sobretudo em França, que os tratados da União foram talvez longe de mais e que a Alemanha ameaça a Europa numa guerra económica que poderá escalar, após Berlim se ter entendido com Moscovo para ser o hubenergético da UE. Mas como não bastasse a latitude e largueza de perímetro dos tratados, a Comissão Europeia ainda assim os acha curtos e continua a alimentar uma certa apetência para os driblar, adquirindo competências através de práticas que se vão consolidando sem que alguém as conteste, através dos confortáveis “silence procedures”.

Entre as competências que a Comissão Europeia quer, e que não estão previstas nos tratados, existe uma que deve preocupar Portugal: a de querer ser “Estado” costeiro. A tarefa até nem é difícil; após o Brexit, a UE acabou por ficar sem patrão-de-costa e a grande maioria dos Estados-membros está-se nas tintas para o mar. Ao que acresce uma multitude de pequenos Estados (para cima de uma dúzia) que, sem dimensão nem músculo, são totalmente incapazes de impor agenda quando assumem a presidência da União.

A Alemanha conta com grande apoio da Suécia e da Espanha em tudo o que respeita ao mar e com a indiferença da grande maioria dos Estados-membros. A Comissão Europeia agradece e, alinhada com a chancelaria de Berlim, vai aos poucos anulando as nações marítimas e fazendo o transbordo das competências dos Estados costeiros para si própria. E fá-lo de maneiras bem mais eficazes que os U-Boot de Karl Dönitz.

A Comissão começou a socorrer-se do condicionamento à liberdade de participação dos Estados-membros nas diversas convenções marinhas internacionais, usando os apropriados subterfúgios burocráticos. Mas a Política Comum de Pescas é a estrela. A ideia é transformar a Política Comum das Pescas numa política comum de mar, lendo nessa lei o que lá não está e esforçando-se por abrigar nela quase tudo o que são os assuntos relacionados com a governança dos oceanos. Nos assuntos do mar, Portugal, Irlanda e Dinamarca no Atlântico e Itália e Grécia no Mediterrâneo têm a “vida marítima” cada vez mais dificultada.

Se a Comissão Europeia conseguir ser o “Estado” costeiro da UE e transformar o mar de todos e de cada um dos Estados-membros no Mar da União, uma de duas coisas deixará de fazer sentido: ou não fará sentido Portugal permanecer na UE, ou será Portugal a deixar de fazer sentido. É bom que os Portugueses vão tomando disso consciência e que se perceba que a queda do muro de Berlim poderá resultar num enorme cachapão no mar português, afundando o salvo-conduto da nossa soberania. Saberá Portugal evitar, uma vez mais, as tropelias das intenções continentalistas? Esperemos que sim e que continuemos a navegar, honrando a memória dos heróis que nos permitiram aqui chegar.

 

 

Um comentário


Uma pertinente chamada de atenção.

Uma pertinente chamada de atenção que, infelizmente, omite que quem obrigou Margaret Thatcher e François Mitterrand a “engolir” a reunificação alemã foi George H. W. Bush.

 

 

O artigo de José Manuel Marques foi publicado no Observador às 00:04 de 01 de Setembro de 2021. Ver aqui.

 

 

 

 

 

 

FIM