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coisas & loisas

coisas em que vou pensando e loisas de que gosto, ou não

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A Questão do Intermarium

16.01.22 | Álvaro Aragão Athayde

Józef Piłsudski’s Intermarium: The Initial Plan Map

Mapa do plano inicial do Intermarium de Józef Piłsudski (anterior à Guerra Polaco-Russa de 1918–1921).

 

 

Um artigo da autoria de José Milhazes seguido de um comentário de minha autoria.

 

Campanha eleitoral parola


Os nossos políticos fazem de conta que uma guerra às portas de países da União Europeia e da NATO, organizações de que Portugal faz parte, ou com a participação delas, não nos diz respeito.

Por José Milhazes no Observador  às 00:17 de 14 de Janeiro de 2022. Original aqui.

Claro que a abordagem da degradação do Serviço Nacional de Saúde, do aumento dos salários, das pensões, do preço dos combustíveis, da carga fiscal são muito importantes numa campanha eleitoral em Portugal, mas uma guerra entre as “distantes” Rússia e Ucrânia poderá pôr tudo a perder.

Por isso, esperava que esse tema fosse abordado em algum dos numerosos debates televisivos entre os dirigentes de vários partidos, mas enganei-me redondamente. Os nossos políticos fazem de conta que uma guerra às portas de países da União Europeia e da NATO, organizações de que Portugal faz parte, ou com a participação delas, não nos diz respeito.

Isto tornou-se particularmente evidente no debate entre João Oliveira, representante do Partido Comunista Português, e Rui Rio, dirigente do PSD. Quando este último tentou abordar as posições assumidas pelo PCP face à União Europeia e à NATO ou falar de modelos de governo que os comunistas veneram: Coreia do Norte, Venezuela, Cuba, João Oliveira contra-atacou para dizer que estava ali para falar dos problemas do país.

Com isto não quero dizer que Rui Rio quisesse dedicar algum do seu tempo cronometrado à grave situação criada na fronteira entre a Rússia e a Ucrânia ou à profunda crise existente nas relações entre a Aliança Atlântica e Moscovo. Ele e outros dirigentes políticos nacionais não fazem isso simplesmente porque discutir os grandes temas internacionais, mesmo aqueles que já nos afectam ou podem vir a afectar no futuro, não dá votos.

Dediquei algum tempo à procura de uma palavra capaz de definir esta forma de estar na política e acho que “parola” é a que melhor a define; dizer que ela é “provinciana” será pouco.

 

Europe 1941, before Operation Barbarossa

A Europa em 1941, imediatamente antes do início da Operação Barbarossa.

 

Impasse perigoso na Europa

Não quero fomentar o pânico, mas as relações entre a Rússia, por um lado, e os Estados Unidos, NATO e União Europeia, entraram num terreno muito perigoso. A situação é tão grave que já se ouvem vozes na Finlândia e na Suécia, países que se mantiveram neutros durante a “guerra fria”, a falar da possibilidade da sua adesão à Aliança Atlântica.

No caso concreto da Finlândia, país que sempre evitou irritar o seu poderoso vizinho e até tirou grandes proveitos económicos da sua neutralidade, perdeu o receio e ameaçou aderir à NATO caso a Rússia invada a Ucrânia. Esta é a posição unânime do Presidente conversador Sauli Niinistö e da jovem primeira-ministra social-democrata Sanna Marim.

Isto deveria fazer pensar o Presidente russo, que conseguiu pôr todos os seus vizinhos ocidentais contra si, considerando que a culpa da deterioração das relações com o Ocidente é toda deste último.

Mas parece que esse momento não chegará. Dmitri Peskov, porta-voz de Vladimir Putin”, utilizou a palavra “fracasso” para caracterizar a primeira volta das conversações entre as partes, um sinal de que o Kremlin vai continuar a pressionar para conseguir os seus objectivos, principalmente no que respeita ao não alargamento da NATO a países como Ucrânia, Geórgia e Moldávia e à instalação de infraestruturas e armamentos da Aliança Atlântica junto das fronteiras russas.

Segundo Serguei Lavrov, ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, os Estados Unidos prometeram apresentar uma resposta por escrito ao ultimato de Putin na próxima semana, mas é praticamente certo que ela não agradará a Moscovo. Já foi prometido por ambas as partes continuar o diálogo, mas até quando? O Kremlin quer resultados rápidos, o que dificulta ainda mais as coisas.

Entretanto, continuam as acusações mútuas de instalação de tropas e armamentos nas zonas fronteiriças. Os separatistas pró-russos de Donetsk e Lugansk falam de armamento pesado. Nesta situação, qualquer atrito ou provocação poderá gerar um conflito armado de grandes dimensões.

É difícil compreender a razão e as vantagens que poderão levar Putin a envolver-se num confronto militar com a Ucrânia, mas ele colocou a fasquia tão alto que é difícil vislumbrar qual a solução para este grave problema. Talvez ela passe mesmo pelo “Quarteto da Normandia” (França, Alemanha, Rússia e Ucrânia) e pelos Acordos de Minsk? Aqui há uma unanimidade quanto ao conteúdo do citado documento, havendo divergências na sequência da sua realização. Kiev quer reaver primeiro o controlo da fronteira russo-ucraniana nas regiões separatistas e só depois definir o estatuto desses territórios, mas os separatistas (leia-se, Putin) defendem o contrário.

Em Agosto de 2008, Vladimir Putin, então primeiro-ministro da Rússia, encontrava-se a assistir à abertura dos Jogos Olímpicos de Pequim quando deu ordem às suas tropas para invadir a Geórgia. Dentro de três semanas, ele estará na capital chinesa para assistir à abertura dos Jogos Olímpicos de Inverno… Não sou supersticioso, mas…

 

 

A Questão do Intermarium


Dado que a população portuguesa não faz a menor ideia do que é a Questão do Intermarium.

Dado que o governo português não não teve, tem, terá, a menor influência na resolução da dita questão.

Qual seria o sentido de a trazer à colação nos debates das eleições legislativas de 30 de janeiro de 2022?

Original aqui.

 

 

Nikolai Gogol: Tarass Bulba, o Cossaco

Tarass Bulba, o Cossaco
Nikolai Gogol (Autor), Larissa Shotropa (Tradutora), Maria Vassilieva (Tradutora)

 

 

 

 

 

 

 

FIM

 

Palhaçadas nossas, que estais em Portugal

09.01.22 | Álvaro Aragão Athayde

Palhaços e suas graças… vá entender u.ú

Palhaços e suas graças… vá entender u.ú

 

 

Um artigo de Alberto Gonçalves, que desempenha no Observador o papel de bobo da corte, ou de palhaço residente, seguido do comentário de Carlos Quartel, o comentário de que mais gostei e um dos mais apreciados.

Como tristezas não pagam dívidas rir ainda é o melhor remédio!

 

 

 

Cartas de amor

de uma esquerda portuguesa


Antes do final do mês é plausível que milhares de “personalidades de esquerda” se juntem em dúzias de peditórios. À esquerda não faltam “personalidades”: falta noção do ridículo e falta vergonha.

Por Alberto Gonçalves no Observador às 00:23 de 08 de Janeiro de 2022. Original aqui.

A 2 de Janeiro, 31 “personalidades de esquerda” rogaram por petição “o entendimento das forças de centro-esquerda e esquerda, visando constituir uma maioria parlamentar e um Governo [maiúscula deles] que tenha como propósito a aplicação de medidas indispensáveis para a melhoria do bem-estar da população”. No dia 4, foram 100 as “personalidades de esquerda” a reclamar “uma maioria plural de esquerda” nas eleições, visto que, “seja qual for o futuro, só essa pluralidade pode construir o diálogo, a alternativa e a resistência”. Escrevo a 7, e estranho que ontem 350 “personalidades de esquerda” não tenham produzido apelo similar. Mas antes do final do mês é plausível que milhares de “personalidades de esquerda” se juntem em dúzias de peditórios. À esquerda não faltam “personalidades”: falta noção do ridículo e falta vergonha.

Uma coisa de cada vez. Primeiro, a ironia. É interessante notar que os apelos à união das esquerdas nem sequer conseguem unir os esquerdistas que assim apelam. É evidente que a acumulação de abaixo-assinados traduz ódios ou pelo menos divergências entre os respectivos subscritores. Dado que Fulano não aprecia Sicrano, não o convida para o grupo dos eleitos (“eleitos” é força de expressão), o que motiva Sicrano a redigir um texto alternativo e a convidar Beltrano. Naturalmente, Beltrano detesta Fulano e cinco integrantes da “lista” de Sicrano, pelo que, com 185 “personalidades” despeitadas, já iniciou a sua própria carta aberta, a publicar logo que o “site” do “Expresso” ressuscite. E o prof. Boaventura assina as cartas todas.

Depois vem a soberba. Conforme a designação indica, as “personalidades” não são quaisquer palermas: são palermas que se julgam ungidos de um estatuto especial, atribuído pela política, a universidade (digamos), o cançonetismo, o “jornalismo” ou as “artes”. Aqui não se encontram cantoneiros, operadores de “telemarketing” ou despachantes, ofícios “normais” que não habilitam o titular a orientar-se sozinho e muito menos a influenciar o próximo. As massas brutas carecem de orientação. Por sorte, acima delas paira uma elite esclarecida generosamente disponível para orientá-las através do exemplo. Se a sra. dona Pilar del Rio, cuja sabedoria é infinita, vota em marxistas, não cabe na cabeça de ninguém que o Zé Luís, bancário na Trofa, arrisque fazer diferente. E se o sr. Abrunhosa, que comete uns discos, deseja que os marxistas preencham por completo o parlamento, seria absurdo que a Isabel de Sousa, pasteleira em Ourém, discordasse. Igualdade sim, mas com limites.

Por cá, os comediantes profissionais, em geral de esquerda, em geral possuem a graça de uma torradeira avariada. Em compensação, os comediantes acidentais são genuinamente engraçados. A lengalenga dos 100 chega a referir a necessidade de “alternativa” e de “resistência”. Alternativa a quê, santo Deus? Resistência a quê, virgem santíssima? Esta tropa fandanga é a pura representação do “sistema”, naquilo que o “sistema” tem de mais bolorento e daninho. Gostem ou não (gostam, gostam), em larga medida eles são o poder, que miseravelmente ocupam desde 2015 e espantosamente acumulam com a devoção infantil, e algo macabra, do Maio de 1968, dos barbudos cubanos ou dos próprios sovietes. Ainda que usufruam de privilégios vedados a uns 98% dos restantes portugueses, mantêm o imaginário da “luta” com a extraordinária convicção de um vegetariano que vai na segunda dose de cabrito.

Do alto da alucinação e do grotesco, da presunção e da pompa, estas petições e peticionários têm genuína piada. Só perdemos a vontade de rir quando, sob o humor involuntário, nos lembramos de que a influência e as intenções desses bandos são os maiores sintomas do nosso imenso atraso de vida. Dito de outra maneira: estamos em 2022. E após todas as proezas do comunismo assumido ou dissimulado, um pequeno país castigado há décadas pela doença colectivista, e pela pobreza, o autoritarismo e a corrupção anexas, continua a admitir que a pertença à “esquerda” constitui sinal de orgulho e distinção. É como se, por cima do rasto de destruição e morte, a peste bubónica gozasse até hoje de razoável prestígio. Quando vejo uma criatura confessar-se de esquerda, imagino-a sempre a proclamar: “Sim, de facto considero que a acção de luta e resistência da bactéria Yersinia pestis é o único caminho para a consagração do ser humano na sua plenitude.” E se lhe lembramos a devastação, a resposta não falha: “Essa não era a peste verdadeira”.

Loucura, no sentido exacto do termo? Evidentemente. Porém, é injusto acreditar que loucos são apenas os consumidores dos sucessivos “manifestos”, e não os oportunistas que os assinam. Mesmo os oportunistas não parecem regular bem, e a transformação da maluquice num negócio rentável não confere alta automática aos malucos. Para lá do oportunismo, do cinismo e da hipocrisia, acho sinceramente, e com imenso respeito, que a vaidade dos esquerdistas com a esquerda que afinal escolheram reflecte psicoses graves. Nada ali se prende com a aflição face às desigualdades (que aliás praticam) ou as opressões (que de resto exercem), e sim com o mero prazer de se dizerem “de esquerda”. A palavra enche-lhes tanto a boca que a última sílaba solta-se pelas narinas, feito mostarda. Tamanha “superioridade moral” não disfarça a inferioridade emocional, alimentada por obsessões, tiques, transes.

As ladainhas dos 31, dos 100 e dos 589 destinam-se ao público em geral. Deviam ser endereçadas ao corpo clínico do Júlio de Matos. Embora assinem inúmeras cartas, as “personalidades de esquerda” não jogam com o baralho todo.

 

O comentário de que mais gostei

 

A irritação do autor é manifestamente exagerada. Eles estão somente a zelar pelo seu bem estar, a fazer o que podem para que ninguém os incomode , nos seus modos de vida.

Todos, ou quase todos, estão sentados na mesa do orçamento, nos seus observatórios, entidades, comissões, recebendo bolsas para investigações de género, de raça, de escravatura, de tipos binários, fazendo doutoramentos e mestrados sobre as ciências da adivinhação e outros temas fundamentais para o desenvolvimento da espécie, coisas que não estão ao alcance das mentes tacanhas da direita, que poderiam cortar a torneira de onde saem os euros que os sustentam.

Há que compreendê-los .....
·
Carlos Quartel, há um dia, aqui.

 

 

 

 

 

 

 

FIM