Geopolítica da Cultura Lusística
Originalmente publicado às 21:30 de 02 de Janeiro de 2016
“Lusística” e “Lusístico” são neologismos.
“Lusística” e “Lusístico” estão para “Luso” tal como “Helenística” e “Helenístico”, estão para “Heleno”.
Tal como se fala de “Cultura Helenística” (de “Heleno”) falaremos de “Cultura Lusística” (de “Luso”).
Tal como é possível falar da “Geopolítica da Cultura Helenística” é possível falar da “Geopolítica da Cultura Lusística”.
A “Geopolítica da Cultura Lusística” baseia-se:
01.
Na “Herança Política Lusa”, uma rede de cidades portuárias e respectivas zonas de influência (hinterland), que cobre as costas do Brasil, ocidental da Ibéria, ocidental e oriental de África, atingindo depois as costas do Indostão, da Indochina, das ilhas do Arquipélago Malaio, da China e do Japão.
02.
Na “Herança Linguística Lusa”, a Língua Portuguesa, suas Variantes e seus Crioulos.
03.
Na “Herança Religiosa Lusa”, o Culto Paleolítico da Mãe do Céu, o Judaísmo de Sefarad, o Cristianismo da Hispânia e o Maometanismo do Al-Andalus.
04.
Na “Herança Convivencial Lusa”, uma forma de estar e de se inter-relacionar peculiar, ainda pouco reconhecida e menos estudada, que se baseia em princípios do tipo “não se nega água a ninguém”, “não se recusam convites para ir tomar um copo”, “não se nega esmola a um pobre”, “somos todos filhos de Adão”, “temos que ser uns para os outros”, “uma mão lava a outra e as duas lavam o rosto”, princípios estes que materializam uma difusa “noção de irmandade universal” que acarreta uma também difusa “obrigação de solidariedade universal”.
05.
Na “Herança Dietética e Culinária Lusa”, uma dietética e culinária originalmente mediterrânica que, por incorporação de alimentos e técnicas de preparação e confecção das mais variadas proveniências, acabou por adquirir características singulares (e.g. as açordas, caldeiradas, feijoadas e massadas, que podem ser de carne, marisco ou peixe; os pratos de frango, cabrito, leitão e vitela; as papa-de-milho, xarém (pt), xerém (br), ou pirão-de-milho (ao); o arroz-doce (pt) ou mingau-de-arroz (br); a canjica, curau, jimbelê, ou mungunzá, semelhantes ao arroz-doce mas feitas com milho e, ou, leite de coco; o ananás, ou abacaxi, nativo do sudeste americano, tal como a mandioca; a manga, nativa do sul e do sudeste asiáticos; a tangerina, nativa do sudoeste chinês; o arroz, nativo do nordeste chinês; etc.).
06.
Na “Herança Poética e Musical Lusa”, aparentemente na linha do trovadorismo medieval (com as suas cantigas de amor, de amigo, de escárnio e de maldizer) e que surge tanto a nível popular como erudito (no Brasil, por exemplo, a Música Caipira, ou Sertaneja, e a MPB de Chico Buarque e outros).
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Um imenso Portugal
Império lusitano soube usar liberdade das elites locais e religião missionária para manter-se por cinco séculos
Carlos Haag | Pesquisa FAPESP | 201 (Novembro 2012)
Como um pequeno país com menos de 90 mil quilômetros quadrados marcou sua presença em cinco continentes, em regiões como África, Japão, China, Índia e Brasil? Nenhum império europeu colonial moderno foi tão duradouro e amplo. Portugal foi o primeiro construtor de um império global (embora os portugueses se denominassem reino, e não império, como os espanhóis), que sobreviveu em grande parte até meados dos anos 1970, tendo Macau retornado à China apenas em 1999. «O sucesso deve-se a inovações que fogem a qualquer modelo. A relação pioneira entre centro e periferia foi marcada pela flexibilização do poder pelas elites locais, sem que Lisboa deixasse de ser o polo irradiador da autoridade. Bastante inovador foi também o uso da religião para a criação da unidade imperial», explica a historiadora Laura de Mello e Souza, da Universidade de São Paulo (USP), coordenadora do projeto de pesquisa Dimensões do Império Português, temático iniciado em 2004 e concluído recentemente com apoio da FAPESP.
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Não havia mais como “essa terra seguir seu ideal/ Se transformar num imenso Portugal”, a bravata lusitana de Fado tropical, de Chico Buarque.
Projeto
Dimensões do Império Português (nº 2004/10367). Modalidade: Projeto Temático. Coordenadora: Laura de Mello e Souza – USP. Investimento: R$ 578.580,17 (FAPESP).
http://revistapesquisa.fapesp.br/.../12/um-imenso-portugal/
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Adaptação de “Rotas comerciais portuguesas de Lisboa a Nagasaki entre 1580-1640 (azul). E a rota comercial espanhola estabelecida em 1565, o chamado galeão de Manila (branco)”:
https://commons.wikimedia.org/wiki/File:16th_century_Portuguese_Spanish_trade_routes.png
em https://pt.wikipedia.org/wiki/Imp%C3%A9rio_Portugu%C3%AAs.
Publicação original aqui.
FIM