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coisas & loisas

coisas em que vou pensando e loisas de que gosto, ou não

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coisas em que vou pensando e loisas de que gosto, ou não

Os Costa

Doença Democrático-Socialista

16.06.22 | Álvaro Aragão Athayde

Os Costa

Psicografia do Dr. Afonso Costa & António Costa

Um artigo de João Miguel Tavares e o meu comentário ao dito artigo, ambos no Público de16 de Junho de 2022.

 

 

Não faltam médicos.
Faltam bons políticos e bons gestores


Portugal está no top 10 mundial em número de médicos por habitante. O rácio de médicos por 1000 habitantes subiu 74% em 20 anos. O investimento do país em saúde é dos mais altos do mundo desenvolvido.

João Miguel Tavares • PÚBLICO • 16 de Junho de 2022, 0:30


Há anos que chateio jornalistas e directores com este desafio: façam um levantamento exaustivo do tipo de escolas – privadas ou públicas – onde andam os filhos dos ministros e dos secretários de Estado, e uma investigação minuciosa aos hospitais – privados ou públicos – que eles frequentam. O país precisa saber.

Já ouço as críticas: a minha sugestão é “populista” e uma invasão da “privacidade” dos políticos, certo? Errado. É apenas elementar escrutínio democrático. Nós, cidadãos, temos todo o direito de saber se aqueles que enchem a boca com a defesa do SNS e da escola pública efectivamente frequentam o SNS e a escola pública. Na esmagadora maioria dos casos, estou certo que a resposta é um rotundo “não”. Os governantes que acabaram com os contratos de associação têm os filhos em escolas privadas, e os que acabaram com as PPP na saúde vão aos hospitais privados sempre que precisam.

Isso tem um nome: hipocrisia. E não me venham com a conversa do grande perigo que é dividir Portugal entre “nós” e “eles”, porque não é o povo que mantém a elite a uma distância higiénica – é precisamente o contrário, e esse fosso está a agravar-se de dia para dia, colocando em causa os alicerces das nossas democracias. Acordem: é a distância que vai do topo à base que alimenta os populismos, não é a denúncia dessa distância. Aquilo que tem acontecido em Portugal nos últimos anos é uma gravíssima erosão dos dois mais importantes pilares do Estado Social – a Saúde e a Educação –, enquanto a esquerda nos vai aspergindo com o seu amor pelo SNS e pela escola pública.

Já o escrevi várias vezes, mas vale sempre a pena repetir. Tenho os meus quatro filhos em escolas públicas. Frequento hospitais públicos, porque não tenho seguro de saúde. Sempre andei em escolas públicas. Sou filho de funcionários públicos. Tenho perfeita consciência daquilo que devo ao Estado e daquilo que entrego ao Estado. Tenho perfeita noção de que existem extraordinários profissionais no sector público e profissionais miseráveis. E tenho um profundo horror por o Estado não ser capaz de distinguir uns dos outros, de premiar os melhores e de afastar os piores, de avaliar procedimentos e criar incentivos à excelência, porque esse é mesmo o grande problema do país.

Não é a falta de meios – é a trágica qualidade da gestão. Portugal está no top 10 mundial em número de médicos por habitante. O rácio de médicos por 1000 habitantes subiu 74% em 20 anos. O investimento do país em saúde é dos mais altos do mundo desenvolvido. No número de professores por aluno, Portugal está acima da média europeia no ensino primário. O número de estudantes tem caído e o de professores aumentado. No entanto, a partir do próximo ano estima-se que haverá 110 mil alunos com falta de pelo menos um professor, e o SNS está, como se vê, em cacos.

Esta terça-feira fui a uma consulta externa ao Hospital de Santa Maria. Não era urgente. Estava marcada há meses para as 15h15. Às 17h ainda não tinha sido atendido. Como tinha um programa para gravar e gente à minha espera, fui-me embora. Regressei às 19h. Fui atendido às 20h. Ainda havia pessoas na sala. O médico tinha 42 doentes marcados para aquela tarde. Por um lado, apetecia-me bater-lhe pelas horas que passei à espera. Por outro, apetecia-me abraçá-lo pela sua dedicação aos doentes. Fui muito português: não fiz uma coisa, nem outra. O SNS tem heróis a mais e bons gestores a menos. E todos sofrem com isso.

O autor é colunista do PÚBLICO

Original e comentários aqui.

 

O meu comentário

Realmente que esperar de uma “elite” maioritariamente formada na escola dos “grandes democratas” Armindo Rodrigues de Sttau Monteiro, João Pinto da Costa Leite (Lumbrales), Marcelo José das Neves Alves Caetano, Pedro Soares Martínez, e outros?

Os mestres foram “grandes democratas de direita”, os discípulos, para contrariarem os mestres, decidiram ser “grandes democratas de esquerda” mas os facto é que tão “grandes democratas” foram os mestres como são os discípulos.

 

 

 

 

 

 

 

FIM

 

A História repete-se? Como farsa ou como tragédia?

04.06.22 | Álvaro Aragão Athayde

Hegel observa algures que todos os grandes factos e personagens da história universal aparecem como que duas vezes. Mas esqueceu-se de acrescentar: uma vez como tragédia e a outra como farsa. Caussidiére por Danton, Louis Blanc por Robespierre, a Montagne10 de 1848 a 1851 pela Montagne de 1793 a 179511, o sobrinho pelo tio. E a mesma caricatura nas circunstâncias em que apareceu a segunda edição do 18 de Brumário!
— Karl Marx. O 18 de Brumário de Louis Bonaparte.

 

Um artigo de Maria João Avillez e o meu comentário ao dito artigo.

 

Deputados do Partido Republicano eleitos pelo Povo em 5 Abril de 1908

Deputados do Partido Republicano eleitos pelo Povo em 5 Abril de 1908

 

Hegemonia e propaganda


Idade, memória, termos de comparação desaguam nestas minhas percepções. No caso, na de uma hegemonia socialista e não de uma mexicanização. Exagero? Não, caro leitor. Confusão? Também não.

Maria João Avillez • Observador • 01 jun 2022, 00:20 • Original aqui

1 
Mexicanização é palavra que muito se tem ouvido: anda de trás para diante em muitas bocas a propósito do reinado absolutista do PS, usada pelos “entendidos” para definir os malefícios da maioria absoluta. Não me parece que seja. Portugal está antes a ser a presa de uma fortíssima hegemonia e não de uma mera maioria absoluta – já tivemos outras. Trata-se de algo mais grave, mais pesado, muito mais perigoso. E inédito. É uma hegemonia como não me lembro de ver e já vi muito ( e desde Abril de 74 vi tudo, na primeira fila).

Idade, memória, termos de comparação e referências desaguam nestas minhas percepções. No caso, na de uma hegemonia socialista e não de uma mexicanização. Exagero? Não, caro leitor. Confusão de significados? Também não.

2 
A hegemonia é política, antes do mais. Ultrapassa as fronteiras partidárias, governamentais, parlamentares e vai anulando ou ignorando o que a incomoda, privilegiando apenas os figurantes eleitos para parceiros que variam consoante as “saisons”. E quando é preciso – e tem sido preciso – intervém sobre o que resta das instituições independentes: controle de contas, tribunais, Banco de Portugal, universidades, Procuradoria Geral da República; reguladores ( (são muitos, com muito poder e estão a ser muito instrumentalizados). Etc. Basta relembrar, a propósito da Procuradoria, a recente “actuação” inteiramente partidarizada da actual Procuradora na escandalosa questão dos metadados para se testemunhar – em relevo! – o assalto às instituições. Uma história – relembre-se também – só possível de ocorrer após o conveniente afastamento da anterior Procuradora, Joana Marques Vidal, com a aquiescência do Chefe do Estado).

Diante dos nossos olhos, ora se despedem inopinadamente funcionários que afinal não servem a causa do poder com zelo, ou se recorre a modus faciendi mais operacionais onde não é preciso olhar a meios e não faltam colaboradores: perseguições ao bom nome, exposição pública de acusações mal fundamentadas; campanhas a serem permanentemente oleadas e agilizadas por fieis que não se fazem rogados. Desenterram-se se passados não cuidando de neles contextualizar absolutamente nada, nem a época, nem a argumentação, nem o tema, nem o contexto em que foi tratado. Escolhe-se ou nomeia-se mas logo sem sombra de hesitação se anula o compromisso do convite se um qualquer “alguém” tiver descoberto que o escolhido se atrevera um dia a tecer critica ou emitir discordância contra o PS. Já tem até ocorrido ao socialismo actualmente em vigor, exigir o cartão de militante do PS para a entrada em gabinetes do Estado. E aos juízes já foi recentemente aconselhado comportamento “socialista” por gente do PS com responsabilidades políticas (imagine-se quantos céus desabariam sobre o país e quantos Carmos e Trindades se pulverizariam em escombros se ocorresse a alguém da escassa galáxia de comentadores não socialistas, a exigência, nas suas funções, de juízes com comportamento que não “chocassem” com o PSD).

3 
A hegemonia exerce-se igualmente e com a mesma desenvoltura no sector económico. Só um distraído (ou um desistente) não se apercebe de como na Economia, António Costa privilegia o Estado com uma mão – com ambas! – enquanto com a outra distingue – e protege – as grandes multinacionais cumuladas de bondades e facilidades, do fisco à burocracia passando pelo sempre jubiloso acolhimento manifestado pela governação. Uma estranha mas sobretudo desastrosa aliança. No meio destas duas fortíssimas tenazes, sem que o poder, as tutelas, os responsáveis, façam grande (ou pequeno!) caso, as empresas portuguesas, repito-o, extenuam-se numa solitária e desamparada luta pela sobrevivência. Mereceriam melhor sorte. Sem elas o motor do crescimento económico fica ainda mais gripado, e o pulmão das exportações vai precisar de respiração assistida. Como bem sabe quem sabe, o país há-de chegar ao fim deste ano de 2022 incapaz de apresentar resultados económicos ao nível dos obtidos em 2019. Há mais vexatório? E como eu bem sei, a cada “minuto” aumenta o que pago pelo meu próprio trabalho (uma importância acima de diversas medias europeias que contabilizam estas sagas). Há mais desanimador?

4 
A hegemonia cultural não é novidade: há muito que nos dizem o que pensar e como pensar mas não posso impedir-me de voltar ao tema Ou se segue a cartilha deste importado ar do tempo – com o cuidado de atarraxar bem a cartilha a cada um dos seus alucinantes cânones – ou se é um pária. Não nasceu no PS nem é um exclusivo socialista mas esta apropriação cultural erguida sobre impostos dictact – gosto, escolhas, escolas de pensamento, criadores e criações artísticas, livros, comportamentos – não perturba o poder. Passou até a ser quase moeda corrente uma alta vigilância pelos hegemonizadores: vexando publicamente quem não agir sob a batuta mental das variantes do “cancelamento” (só a palavra gela o sangue nas veias) e saudando com aparato quem integra as fileiras do “autorizado”.

5 
Visível na política, na economia, na cultura, que dizer do atabafamento (uma forma de hegemonia) da autonomia da sociedade civil? Hoje dá-se mais por isso embora esteja a ser semeado há muito: lembro-me até de que há um bom par de anos se impediu a pretensão de um grupo de motoristas de materiais tóxicos de constituírem num sindicato (Sindicato Nacional dos Motoristas de Matérias Perigosas, se a memória não me falha). Exit iniciativa e sindicato, o poder obstaculizou quanto pôde, acabando com a fantasia e humilhando os motoristas porque a iniciativa o incomodava. Mais recentemente houve – há – o acinte desprezivo com que se costuma olhar para Ana Rita Cavaco. Bastonária da Ordem dos Enfermeiros – que ela quase transformou num “sindicato” graças à determinação de sua acção politica – foi publicamente erigida a estorvo do poder socialista. Um estorvo com voz , ainda por cima. Repare-se também como se menorizam, desqualificam ou mesmo se empurram pela borda fora, alguns fóruns ou associações de grupos de cidadãos cuja iniciativa e capacidade de critica corre o risco de destoar do coro socialista? Ou, porventura o pior dos piores, a escola privada – não, nunca me cansarei de voltar a este tema) e a teia de dificuldades com que se tenta domesticá-la. Percebe-.se: o ensino privado ficando de fora do perímetro de controle sobre o que o Estado lecciona, a propaganda que veicula, os currículos que elege, exige ser combatido. Combata-se!

São apenas alguns exemplos que agora me ocorrem mas a sua eloquência fala por eles.

6 
Se houve coisa que Luís Montenegro tenha sinalizado é que percebeu isto tudo. Não sei se outros o terão acompanhado na sua percepção porque só lhe falaram do Chega. Sucede que Montenegro percebeu que só terá uma coisa a fazer durante alguns anos: uma oposição sistemática. Sem apelo nem agravo. Que o mesmo é dizer sem falhas nem folgas.

PS. Era circunspecto e silencioso, inteligente e atento, praticava um humor impiedoso, tinha a coragem da sua liberdade, amava o papel de jornal e sabia com alta mestria , torná-lo indispensável. Vinha dos Açores, foi um grande jornalista e eu respeitava-o. Algumas discordâncias que tivemos foram-se desfazendo, vida fora, como bolas de sabão. Mário Mesquita talvez não soubesse – mas fica a saber agora – a que ponto iluminou a minha caminhada jornalística com uma proposta que me fez quando, na década de oitenta do século passado, me convidou escrever um diário no Diário Noticias que então dirigia. Chamava-se “Noticias de um Diário” e por duas ou três épocas não cronologicamente seguidas, ali estive, feliz. Felicíssima, assegurando o meu trabalho no Expresso e “figurando” ao mesmo tempo nas páginas de um jornal que eu adorava, como era o DN. Grandes tempos, grandes recordações, grande jornalismo que o Mário fazia. Honro-me muito – e hoje consentindo em deixar uma sentida nota de emoção vir ao de cima deste breve escrito – de poder dizer que trabalhei com o Mário Mesquita, para o Mário Mesquita!

 

 

A História repete-se… como farsa ou como tragédia?


Primeira República, Ditadura do Partido Democrático, dos Afonsistas, é o precedente histórico mais aproximado e, talvez, o mais adequado.
 
Como acabará?
 
Possivelmente da mesma maneira.
 
Não tendo os Socialistas projecto, tal como os Democráticos o não tinham, não tendo os Socialistas capacidade para resolver "A Questão Financeira", tal como os Democráticos a não tiveram, haverá carestia, já começa a haver, insegurança (roubos, homicídios, manifestações violentas), também já estão aparecendo e, verificando-se uma alteração na Situação Internacional, que também já se começa a verificar, alguém tentará acabar com a bagunça e pôr ordem no galinheiro.
 
Se alguém o tentará, quem, quando, Deus sabe.

 

 

 

 

 

 

 

FIM