Como vamos nós portugueses superar esta tão badalada crise?
A primeira e fundamental questão é pois, em minha opinião, a questão de saber se queremos realmente superar a crise e, querendo-o, em que termos o queremos fazer.
Ou seja, a questão fundamental é O QUE É QUE NÓS QUEREMOS?
Eu, por mim, pessoal e familiarmente falando, quero sobreviver, continuando a ser quem sou.
Portanto, e concretizando:
Quero continuar a viver, quero continuar a falar português, quero continuar a poder comer joaquinzinhos e a beber vinho verde, quero continuar a dançar a chula e a cantar o fado, a dizer piropos e a fumar Definitivos, a afirmar que Camões é o máximo mas que Vieira não lhe fica atrás, a ler, no original, Herculano, Eça, Castro Alves, Jorge Amado, a declamar Bocage, Pessoa, Gedeão.
E quero ter filhos, netos e bisnetos que sigam nesta mesma linha.
Simples e consensual dir-me-ão...
Infelizmente não!
E não porque entre nós há quem não queira sobreviver, os suicidas, e quem queira sobreviver mas mudando de cultura, os arrependidos.
Os suicidas não se afirmam, infelizmente, como suicidas. Os suicidas defendem e realizam,
em nome de grandes princípios, politicas que desencorajam, ou impedem, a natural reprodução humana. E fazem-no, fundamentalmente, desencorajando ou impedindo as mulheres de terem filhos.
Notem que eu não tenho nada contra a libertação da mulher, nem contra a igualdade de género, tenho, isso sim, contra a utilização destas bandeiras com o objectivo de reduzir a natalidade e, por essa via, promover a extinção do grupo.
Se não houver filhos não há netos e, como todos envelhecemos e acabamos por morrer, o não haver filhos nem netos acarreta que iremos diminuindo, diminuindo, e, quando morrer o último, acaba-se.
Morreu o bicho, acabou a peçonha!
Os arrependidos, que também não se afirmam como arrependidos, defendem e realizam, igualmente em nome de altíssimos ideais, políticas culturais que têm em vista, por um lado, desencorajar ou impedir as manifestações que no seu entender são retrógradas ou impróprias e, por outro, encorajar e realizar as que consideram correctas e progressistas.
Quem se não lembra do que aconteceu com o fado nos idos do PREC?
O fado foi oficialmente declarado, pelos autodenominados progressistas, como sendo uma manifestação fascista!
Era a teoria dos três efes: Fado, Fátima e Futebol. As três manifestações máximas do fascismo. As três a serem proscritas, perseguidas, eliminadas para todo o sempre.
Tudo para o bem e o progresso do povo.
Hoje, como é sabido, o fado foi proposto a Património da Humanidade, o futebol é motivo de orgulho nacional e Fátima lá continua...
Os arrependidos também nos costumam brindar com largas laudas ao progresso, ao desenvolvimento, à necessidade de imitarmos o que de verdadeiramente extraordinário se faz nos países que consideram desenvolvidos e progressistas.
Notem que, como no caso anterior, nada tenho nada contra o desenvolvimento, nem contra o progresso. Mas, também como no caso anterior, sou contra facto de estas bandeiras serem usadas para nos levar a macaquear outros países, e a importar, de forma mais ou menos acrítica, toda e qualquer novidade, supostamente extraordinária, que por lá surja!
Recusando eu o partido dos portugueses suicidas e também o partido dos portugueses arrependidos, declaro-me, oficialmente, aqui e agora, militante do partido dos portugueses entusiastas.
Eu quero ser português! Eu gosto de ser português!
Eu quero comer carne de porco à alentejana, beber cartaxol, dançar o vira, cantar o Zeca, declamar a Natália, ler o Mia Couto!
O meu partido é, como diria um certo militante do Partido Comunista Português, o partido do nosso povo!
Bom, já estou a ver muito camarada com os cabelos em pé!
E estão-no porque, supostamente, o meu discurso é um discurso direitista, ultranacionalista, fascista mesmo...
A esses camaradas só lhes digo uma palavra: ACORDAI !
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Fernando Lopes-Graça Acordai! |
Acordai e olhai em volta.
O desenvolvimento, o internacionalismo, o futuro, o progresso, já não passam por Milão, por Viena, por Paris, ou por Berlim. Há anos que já não passam...
O desenvolvimento, o internacionalismo, o futuro, o progresso, passam hoje por Brasília, Moscovo, Deli, Pequim, Pretória.
Passam, ainda, por Washington, Tóquio, Londres e suas filhas, ou irmãs: Camberra, Otava, Wellington.
Passarão, dentro de não muito tempo, por Bogotá, Caracas, Luanda, Maputo, México, Teerão.
O Mundo mudou... A Europa já era!
E a isso acresce que a Europa está novamente em guerra intestina. Alemanha, França, Itália disputam-se o comando do efémero Império do bárbaro Carlos Magno.
As Espanhas em geral, Portugal em particular, nunca integraram tal império. Estávamos, à época, em outro campeonato. E em outro campeonato estivemos até há muito pouco tempo.
A Grã-Bretanha também nunca integrou o bárbaro Império... e já começou a desacoplar. Docemente, que a nave é grande...
A minha posição não é pois fascista, nem ultranacionalista, nem direitista sequer. A minha posição é, simplesmente, realista.
Sou português, quero continuar a sê-lo, quero que os meus filhos e netos o sejam. E não quero que nos vejamos envolvidos na disputa da herança de Carlos Magno.
Estes são, a meu ver, os reais interesses do nosso povo.
Repito pois a palavra que acima disse, palavra que o Fernando Lopes Graça melhor e antes já disse: ACORDAI !