A estranha identidade dos portugueses
Os portugueses, os portugas, os tugas, dizem-se europeus.
Tão europeus como os alemães, os belgas, os dinamarqueses, os espanhóis, os franceses, os holandeses, os ingleses, os italianos, os noruegueses, os suecos, que tanto admiram e invejam.
Tão europeus não, mais europeus!
Mais europeus do que os alemães, os belgas, os dinamarqueses, os espanhóis, os franceses, os holandeses, os ingleses, os italianos, os noruegueses, os suecos, que tanto admiram e invejam.
E tão europeus, tão europeus, se consideram que tomam como suas as guerras que os europeus têm com diversos estados e povos, a oriente e a sul.
Mas, simultaneamente, consideram-se únicos proprietários de Camões e de Vieira.
Luis de Camões e António Vieira são portugueses, portugas, tugas, europeus!
Luis de Camões e António Vieira são nossos, muito nossos, de mais ninguém!!!
É estanho…
Que os castelhanos, os espanhóis se considerem europeus e, simultaneamente, únicos proprietários de Cervantes percebo:
- Cervantes nasceu, viveu, morreu em Castela-a-Velha e o mais que se afastou da Europa que os portugueses tanto amam foi quando andou combatendo os turcos no mediterrâneos e quando esteve cativo em Argel.
Agora que os portugueses, os portugas, os tugas, se considerem europeus e, simultaneamente, únicos proprietários de de Camões e de Vieira não percebo:
- Luis de Camões nasceu e morreu em Portugal, no Reino, no Aquém Mar, mas passou mais anos da sua vida adulta no Além Mar, no Império, do que no Aquém Mar, no Reino, e é do Além Mar, do Império, que trata a maior parte da sua obra.
- António Vieira, que também nasceu em Portugal, no Reino, no Aquém Mar, mas que morreu no Além Mar, no Império, no Brasil, também passou mais anos da sua vida adulta no Além Mar, no Império, do que no Aquém Mar, no Reino, e também é do Além Mar, do Império, que trata a maior parte da sua obra.
Theobald von Oer. Der portugiesische Nationaldichter Luis Vaz de Camões (1850)
FIM