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Galambagate? Costagate? PSgate?

05.06.23 | Álvaro Aragão Athayde

O Grilo Falante ralhando ao Pinóquio

Pinóquio: resumo e análise da história

 

Um artigo da autoria de João Miguel Tavares seguido de um comentário de minha autoria.

 

 

artigo

De modos que o que aconteceu foi isto


Costa explicou que falou com Galamba, mas sem ser informado – “como falei com outros ministros, com o Presidente da República e com ene pessoas”. Afinal, com o Presidente não falou, corrigiu a seguir.


No dia 26 de Abril, o adjunto Frederico Pinheiro foi exonerado pelo ministro João Galamba e decidiu ir ao Ministério das Infra-Estruturas buscar o computador. Aí agrediu duas ou três ou cinco pessoas, e ficou preso na garagem, ou então ficou preso no quarto andar. Cheias de medo, três ou quatro ou cinco adjuntas barricaram-se na casa de banho e chamaram o 112 e a polícia, ou então quem chamou a polícia foi Frederico Pinheiro, que ainda partiu os vidros do ministério com a sua bicicleta, ou então não partiu.

A polícia foi chamada para prender Frederico Pinheiro, mas em vez disso libertou Frederico Pinheiro, que estava fechado no ministério e não conseguia sair, porque alguém (não se sabe quem) tinha dado ordens para trancar as portas, razão pela qual o alegado agressor pode ter sido alegadamente sequestrado.

Como o computador foi roubado, o SIS foi chamado a intervir, mas o SIS só interveio porque o computador não foi roubado. Se tivesse sido roubado, era matéria da PJ. E quando a PJ apareceu no dia seguinte, o computador já estava na posse do SIS. O SIS só ficou com o computador porque Frederico Pinheiro se voluntariou para o entregar por volta da meia-noite numa via pública ao pé de sua casa, ou então sob ameaça de um agente secreto. O SIS actuou para proteger documentos classificados da TAP, ou então porque temia uma fuga de informação sobre cabos submarinos.

Quando soube o que se estava a passar, João Galamba ligou ao primeiro-ministro, que não atendeu, depois ligou ao secretário de Estado adjunto do primeiro-ministro, que lhe disse para falar com a ministra da Justiça, que lhe disse para falar com o SIS e com a PJ – “coisa que fizemos”, informou no dia 29 de Abril. No dia 17 de Maio, a ministra da Justiça disse que não falaram do SIS. A 18 de Maio, João Galamba esqueceu-se do que se lembrara no dia 29 de Abril: “Não me recordo se falei do SIS ou não à senhora ministra da Justiça.”

Felizmente, a sua chefe de gabinete, Eugénia Correia, lembrava-se de tudo: foi ela a chamar o SIS, por sua livre e exclusiva iniciativa, e sem receber instruções do ministro. Para compensar, João Galamba lembrou-se de outras coisas: a 26 de Abril telefonou também ao ministro da Administração Interna, coisa que não dissera a 29 de Abril (“reconstruir a verdade dá trabalho”, confessou), e “ao final da noite, talvez uma ou duas da manhã”, falou com António Costa para lhe contar “o que se passou”. O primeiro-ministro António Costa garantira a 1 de Maio que “não foi nem tinha de ser informado”.

A 24 de Maio, António Costa explicou que a frase “não foi nem tinha de ser informado” não é equivalente à frase “tinha ou não falado com o ministro João Galamba”. Com o ministro João Galamba ele falou, mas sem ser informado – “como falei com outros ministros, com o Presidente da República e com ene pessoas”. Afinal, com o Presidente da República não falou: “Se eu disse de alguma forma que tinha informado o senhor Presidente da República sobre a intervenção do SIS, aproveito para corrigir imediatamente”, clarificou logo a seguir. “Eu nunca informei o senhor Presidente da República sobre a intervenção do SIS, que fique claro.”

Ou então, escuro: “Até hoje”, disse em nota à Lusa o Presidente da República, a questão do SIS foi abordada com “uma só entidade oficial – aquela que lhe falou no dia 29 de Abril e que era competente para propor a exoneração de um membro do Governo”. Ou seja, António Costa.

De modos que o que aconteceu foi isto.

O autor é colunista do PÚBLICO

 

 

comentário

Galambagate? Costagate? PSgate?


Quando os que comandam perdem a vergonha, os que obedecem perdem o respeito. 
— Georg Christoph Lichtenberg (1742 – 1799)


E, acrescentaria eu, a Anarquia

Dá dois pulos de contente,

Dá dois pulos a pular,

Dá dois pulos

Dá dois pulos

Dá dois pulos pelo ar

Fernando Pessoa (1888 – 1935)
(Poesia 1931-1935 e não datada, Assírio & Alvim, ed. Manuela Parreira da Silva, Ana Maria Freitas, Madalena Dine, 2006)

 

 

 

 

 

 

 

FIM